Escrito por: Flaviana Serafim - CUT São Paulo

CUT São Paulo participará da Marcha das Mulheres Negras

Caravana cutista de todas as regiões de SP estará em Brasília no próximo dia 18

Arte da Dolphin Di Luna, da Secom-CUT

A CUT São Paulo, seus sindicatos, federações e movimentos parceiros estarão na Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, que se realizará no próximo dia 18 (quarta-feira), com caravana de todas as regiões paulistas rumo à Brasília. A atividade é uma entre as várias promovidas pela Central neste Mês da Consciência Negra.

No Distrito Federal, o alojamento estará disponível a partir do dia 17, com sede no Ginásio Nilson Nelson. No dia 18, a concentração será a partir das 9h nas imediações do ginásio, ao lado do Estádio Nacional Mané Garrincha. Do local, haverá caminhada de cerca de cinco quilômetros até o Congresso Nacional, para ato público no Complexo Cultural do Museu Nacional da República.

Oficializada na III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir 2013), a marcha visa dar visibilidade às temáticas raciais femininas, abordando questões como a violência, diversidade, empoderamento das mulheres e reparação histórica ao povo negro no Brasil.

"A mobilização é fundamental para a articulação das mulheres negras porque houve avanços na última década, mas queremos avançar mais. É um protesto inicial, pois a marcha vai muito além das bandeiras do sindicalismo. Ela abrange as jovens negras, as mulheres das igrejas e terreiros, as domésticas e outras, numa organização na qual se fortalecem e buscam visibilidade", pontua Rosana Aparecida da Silva, secretária de Combate ao Racismo da CUT São Paulo.

“A marcha é importante porque mais da metade da população é negra, mas quando vemos os espaços de poder e decisão, não se consegue ver essa população. No mundo do trabalho, chega a ser desrespeitosa a diferença salarial de um homem branco em relação a uma mulher negra”, critica Maria Júlia Reis Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontam que essa discrepância salarial chega a 40% em média. 

Construção unitária - Há um Núcleo Impulsor Nacional, mas a marcha foi construída de formas específicas em cada estado, sem uma organização verticalizada e sem coordenador ou presidente, explica Kika da Silva, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).

"Quando construímos de forma horizontal, a unidade e a solidariedade entre nós vêm sozinha. Essa união é fruto da nossa luta porque o racismo, quando se abate, todas nós estamos sob telhado de vidro. O racismo supera nossas diferenças para construir a unidade", ressalta Kika, que integra o Núcleo Impulso de SP.

Para a professora Anatalina Lourenço, presidente do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico-Racial do Estado de São Paulo (Feder/SP), a marcha também é relevante por debater as questões das mulheres negras brasileiras na Década Internacional dos Afrodescendentes, declarada pelas Nações Unidas para o período 2015-2024 com o mote "reconhecimento, justiça e desenvolvimento".

A educadora avalia que, além do racismo, do sexismo e a homofobia, outro ponto importante nesse embate é descolonizar o currículo do ensino porque o universo escolar é tão perverso quanto outros espaços, num racismo estruturante que permeia as relações no país e exclui, principalmente, as meninas negras.

"Temos dois estereótipos contundentes, o de negras assexuadas ou só sexualizadas e nesse inconsciente coletivo não somos nem uma coisa, nem outra. Não somos Tia Anastácia, nem mucamas. Somos como qualquer outra mulher, com desejos e anseios como nossas meninas, somos mulheres pretas que lutam e que têm percepção do seu papel social", conclui.