Escrito por: André Accarini
Atividade organizada pela CCSCS, com apoio da UNILA e da Fundação Friedrich Ebert, reúne governo, empregadores e sindicatos em Foz do Iguaçu para debater impactos do acordo.
A Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS), da qual a CUT faz parte, realiza nesta quarta (10) e quinta-feira (11) o seminário O Mundo do Trabalho e o Acordo Mercosul-União Europeia, na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em Foz do Iguaçu. A atividade é fruto da luta sindical na região por maior integração, defesa dos direitos sociais e voz ativa diante de acordos internacionais que afetam diretamente trabalhadores e trabalhadoras.
O secretário-adjunto de Relações Internacionais da CUT e secretário-geral da CCSCS, Quintino Severo, explicou que o seminário busca aprofundar o debate sobre os impactos do acordo Mercosul-União Europeia, que voltou à pauta após a revisão em 2023. Para ele, apesar das mudanças introduzidas, o texto segue sem oferecer garantias suficientes para o desenvolvimento regional e para a proteção do trabalho decente.
“Nós sempre tivemos resistência e posição contrária a esse tipo de acordo. Houve uma revisão recente, mas consideramos insuficiente. Continuamos sem garantias de que ele será positivo para os trabalhadores de forma geral e para o próprio desenvolvimento do Mercosul”, afirmou.
Espaço tripartite e construção de alternativas
Segundo Quintino, a realização do seminário em caráter tripartite — com a presença de representantes de trabalhadores, empregadores e governo — é fundamental para compreender as múltiplas visões e formular uma posição unificada do movimento sindical.
“Queremos escutar também os empregadores e o governo, mas tendo claro que a perspectiva sindical é contrária ao acordo nos termos em que está posto. Precisamos lutar para criar mecanismos de participação social que incluam a nossa agenda e que realmente atendam as demandas dos trabalhadores”, destacou.
A expectativa é que, ao final das discussões, o movimento sindical formule um posicionamento conjunto para orientar sua atuação nos próximos meses. Para Quintino, o desafio é equilibrar a necessidade de ampliar mercados diante das tarifas impostas por países como os Estados Unidos com a defesa de um modelo de desenvolvimento que não reduza o Mercosul à exportação de produtos primários.
“O risco é o Brasil e a região se tornarem apenas fornecedores de commodities, enquanto os produtos industrializados continuariam vindo da Europa. Nosso papel é pressionar para que se ampliem as possibilidades de exportação de bens com valor agregado, preservando empregos e fortalecendo a indústria”, completou.
Contexto de disputa internacional
O dirigente ressaltou ainda que o debate ganha força em um cenário global marcado por tensões comerciais e políticas. Ele lembrou que tanto Donald Trump quanto Joe Biden, nos Estados Unidos, demonstraram resistência ao acordo, o que reforça a importância de os países do Mercosul buscarem alternativas de inserção internacional, porém contemplando pautas e interessas da classe trabalhadora da América Latina
“Vivemos um momento complicado, com tarifas americanas que dificultam as exportações. Isso obriga o Mercosul a buscar novos mercados, mas não podemos aceitar uma abertura que fragilize nossa indústria e prejudique a classe trabalhadora”, alertou.
Presença sindical e regional
A CUT Paraná também participa ativamente da organização e mobilização em torno do seminário. Para o presidente estadual da Central, Marcio Kieller, a atividade reflete o compromisso da classe trabalhadora em fortalecer a integração regional.
“Acreditamos que a integração é fundamental. Compartilhamos problemas semelhantes nos campos do trabalho e da política, e buscar soluções em conjunto é a forma mais eficaz de garantir avanços”, afirmou.
Programação
SEMINÁRIO – O Mundo do Trabalho e o Acordo Mercosul-União Europeia
10 de setembro de 2025
11 de setembro de 2025