Escrito por: André Accarini e Luiz Cabral

CUT e centrais celebram os 70 anos do Dieese em ato em São Paulo

Dirigentes das centrais resgataram trajetória e importância do Dieese ao longo de sete décadas; seminário foi encerrado com debate sobre valorização da renda do trabalho

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O Dieese encerrou, nesta sexta-feira (12), o Seminário Internacional “Disputar a Renda, Reduzir Desigualdades”, em São Paulo, com a mesa Desafios para a Valorização da Renda do Trabalho no Brasil, reunindo presidentes e vice-presidentes das principais centrais sindicais brasileiras e representantes do governo. O ato marcou o início das comemorações pelos 70 anos do Dieese, instituído em 1955 e reconhecido pela trajetória de produção técnica a serviço da classe trabalhadora.

A mesa final reforçou o caráter simbólico e político da data. Entre as falas centrais, ganhou destaque a intervenção de Juvandia Moreira, vice-presidenta da CUT Nacional e presidenta da Contraf-CUT, que abriu sua participação saudando as mulheres, os dirigentes presentes e os técnicos do Dieese. Em sua análise sobre os desafios de valorização do trabalho, Juvandia chamou atenção para a necessidade de reconhecer avanços recentes, mas também enfrentar o quadro estrutural de baixos salários no país.

Ressaltando o caráter estratégico do instituto para lutas presentes e futuras e ao tratar da valorização da renda, Juvandia destacou avanços recentes, mas enfatizou que o problema estrutural dos baixos salários no Brasil permanece um obstáculo central.

“Nós tivemos um avanço, com o presidente Lula, na formalização, com a menor taxa de desemprego, 5,4%. Tivemos aumento da renda, que também é algo importante. Mas nós temos um problema que precisamos resolver, porque embora a gente tenha um salário médio de R$ 3.500, cerca de 70% dos trabalhadores ganham menos que isso”, disse a dirigente.

Roberto ParizottiJuvandia Moreira

 

Ela reforçou que os desafios envolvem políticas robustas de valorização salarial, fortalecimento das negociações coletivas e instrumentos que reduzam as desigualdades de renda e de gênero. O reconhecimento público ao trabalho do Dieese atravessou toda a sua fala, articulando avanço social, estabilidade democrática e capacidade técnica.

Representantes das dez centrais participaram da mesa. São elas a CESP, CSP-Conlutas, Intersindical, Pública, CSB, Nova Central, CTB, UGT, Força Sindical e CUT. Suas intervenções enfatizaram tanto a trajetória histórica do Dieese quanto a necessidade de reforçar o papel do movimento sindical diante das mudanças no mundo do trabalho.

Entre os pontos comuns, esteve a defesa da negociação coletiva como fundamento para construção de renda, direitos e proteção laboral, presente em declarações como:
“Nenhum país do mundo valorizou a renda sem sindicato forte. É na negociação coletiva… que a renda vira cláusula, vira direito, vira proteção concreta

Ainda durante a mesa, as pesquisas realizadas pelo Dieese foram exaltadas como instrumentos fundamentais para avanços concretos para a classe trabalhadora - permitiram acordos pioneiros no país em diversas categorias.

Os 70 anos: ato celebra trajetória do Dieese

As centrais destacaram, em falas complementares, o papel histórico do Dieese na sustentação técnica das lutas salariais, das negociações coletivas e da formulação de políticas de valorização. Em diferentes momentos, dirigentes reafirmaram que nenhum nenhum país do mundo valorizou a renda sem sindicatos fortes. Para os dirigentes, “é na negociação coletiva que a renda vira cláusula, vira direito, vira proteção concreta”.

Em entrevista ao Portal da CUT, Juvandia Moreira, destacou que compreender a importância do Dieese é essencial para entender a própria história do movimento sindical brasileiro. Ela lembrou que o instituto nasceu nos anos 1950, criado pelos trabalhadores para apoiar negociações coletivas e produzir estudos sobre a classe trabalhadora, o mercado e a economia. Segundo Juvandia,

“O Dieese assessora as negociações coletivas no Brasil e as entidades sindicais no país inteiro. Ele nos ajuda a compreender a situação econômica da empresa, do setor e do Brasil, permitindo que as categorias cheguem à mesa com informações reais”, disse.

Para a dirigente, sem o Dieese, as negociações dependeriam apenas dos números apresentados pelo lado patronal. “O Dieese tem um papel importante… ele é importante pro Brasil”, afirmou.

Ao detalhar esse papel, Juvandia explicou que a atuação técnica do Dieese é determinante para que sindicatos possam reivindicar reajustes baseados em dados sólidos.

“O trabalhador pensa assim: o sindicato está na negociação, discutindo o reajuste… precisa de um estudo para saber se é possível dar um reajuste maior. Então, você tem uma entidade que faz um estudo, que te dá segurança de que nós podemos brigar e reivindicar mais”, disse.

Ela ressaltou que, sem o Dieese, as empresas levariam números à mesa sem possibilidade de contestação: “se a gente não tem como provar que o reajuste pode ser maior, seremos enganados pelos números do empregador”.

As homenagens prosseguiram com os depoimentos da atual diretora-ténica da entidade, Adriana Marcolino, do presidente José Gonzaga e da vice-presidente Maria Faria, também secretária de Comunicação da CUT.

Adriana Marcolino relembrou fases fundamentais da história do Dieese em sua fala. “O Dieese completa 70 anos agora em 22 de dezembro. Criado em 1955 por 18 sindicatos, o departamento nasceu diante de um desafio central: disputar a renda exigia disputar também a verdade sobre o custo de vida”, disse.

Em seguida, destacou episódios de resistência durante a ditadura militar, o cálculo próprio da inflação, o desenvolvimento de sistemas pioneiros e a consolidação da Escola Dieese de Ciências do Trabalho, que obteve nota máxima nas avaliações do MEC. Adriana também lembrou que “o Dieese segue onde a classe trabalhadora está

Roberto ParizottiAdriana Marcolino 

 

A vice-presidenta Maria Aparecida Faria reforçou o caráter coletivo da construção da instituição. Quero falar da importância do Dieese nas pessoas que constroem o Dieese. São 70 anos de construção coletiva, de estudos e pesquisas que permitem ao movimento sindical se qualificar e defender a classe trabalhadora”, disse.

Maria dedicou parte de sua fala a equipes responsáveis pela execução do projeto de memória dos 70 anos, ressaltando que técnicos, técnicas e funcionários administrativos sustentam diariamente a missão da instituição.

Robero ParizottiMaria Aparecida Faria

 

Já o presidente do Dieese, José Gonzaga da Cruz, completou a sessão histórica com falando sobre ‘pertencimento e responsabilidade’. “Presidir o Dieese me enche verdadeiramente do dever de ajudar a seguir uma instituição sólida, que trabalha para o movimento sindical”.

Em tom de bom humor, citou o ex-ministro Antonio Rogério Magri, por sua fala peculiares. “Vamos fortalecer o Dieese - que o Dieese seja ‘imorrível”, disse.

Roberto ParizottiJosé Gonzaga

 

Homenagem a Walter Barelli

Durante o ato de celebração dos 70 anos do Dieese, os ex-diretores técnicos Clemente Gans Lúcio e Fausto Augusto Jr. revisitaram momentos da trajetória da instituição e conduziram uma homenagem a Walter Barelli, recebida por sua filha, a jornalista Suzana Barelli. Ambos destacaram que o Dieese nasceu de um pacto de unidade sindical nos anos 1950 e que essa base orientou toda a atuação da instituição, construída coletivamente por dirigentes e equipes técnicas ao longo de décadas.

Clemente rememorou sua entrada no Dieese em 1984 e ressaltou que a trajetória do Departamento foi marcada pela unidade do movimento sindical desde sua criação “a partir do pacto de unidade em 1955”. Ele lembrou que Barelli teve papel decisivo nas transformações estruturais do Dieese nos anos 1970 e 1980, período em que a instituição consolidou bases metodológicas e ampliou seu alcance. Também destacou que a Escola Dieese de Ciências do Trabalho, idealizada desde a origem do Departamento, expressa a continuidade dessa construção.

Fausto Augusto Jr. retomou episódios de resistência vividos na ditadura, quando Barelli e Lurdinha Barelli contribuíram para reativar o espaço de formação sindical. Ele lembrou que, nos anos 1970, “os congressos sindicais voltaram a acontecer” graças ao trabalho do Dieese e recordou momentos recentes em que estudos do Departamento ajudaram a enfrentar distorções, como durante a Operação Lava Jato. Fausto também citou referências históricas como Lenina Ponder e Eloísa Martins, ressaltando a importância do legado coletivo.

No púlpito, Suzanna trouxe o caráter pessoal da homenagem. Ela lembrou que seu pai assumiu a direção técnica em 1968, ano em que ela nasceu, e que conciliava o Dieese com o trabalho no Banco do Brasil até decidir permanecer exclusivamente no Departamento, apesar do salário ser um terço do que recebia no banco.

“Eu acompanhava meu pai ao Dieese na minha cestinha, aos sábados”, disse a jornalista exaltando a dedicação de seu pai ao trabalho na entidade. Ela também recordou o envolvimento de sua mãe, que embora não trabalhasse no Dieese, apoiou a formação sindical e aplicou técnicas de psicodrama em atividades de capacitação, além de rememorar situações familiares que revelavam o vínculo profundo de Barelli com a instituição.

Em sua fala, afirmou que nem o pai imaginaria, em 1968, a dimensão da história que estava ajudando a construir.

A homenagem foi encerrada com o anúncio de que o auditório da Escola Dieese de Ciências do Trabalho passará a receber o nome de Walter Barelli, em reconhecimento à sua liderança, ética e contribuição para a história da instituição, gesto celebrado pelos participantes do ato.

Roberto ParizottiClemente Gans, Fausto Augusto Jr, Suzana Barelli e Adriana Marcolino 

 

O ato final prestou homenagem também a todos os ex-diretores técnicos do Dieese, recuperando décadas de história e reconhecendo cada contribuição individual para a consolidação do Instituto. Foram lembrados nomes que estiveram à frente da direção técnica desde os anos 1950, em diferentes contextos políticos, reforçando que cada período exigiu resistência, rigor metodológico e compromisso público com a produção de conhecimento.

Representantes de movimentos sociais e parceiros institucionais também integraram a solenidade, ampliando o alcance simbólico da celebração. O reconhecimento final destacou que o Dieese é patrimônio coletivo, instrumento de democratização da informação e elemento estratégico do movimento sindical brasileiro há 70 anos.

Homenagem da CUT

A Central produziu um vídeo especial contando a história do Dieese. Veja abaixo: