Delegados de 155 países destacam protagonismo do movimento sindical e do governo brasileiro no combate à crise
Com o lema “Agora,os povos: Da crise à justiça global”, mais de 1.400 delegados de 312organizações de 155 países, representando 175 milhões de trabalhadores,participaram em Vancouver, no Canadá, do 2º Congresso da Confederação SindicalInternacional (CSI). Em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho, o secretáriode Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores, João AntonioFelício, eleito para a vice-presidência, para o Bureau Executivo e para o Conselho Geral da CSI, faz um balanço da importância do evento e dos desafios na luta contra aglobalização neoliberal, em defesa do papel do Estado, da redistribuição derenda e do diálogo social.
Além de JoãoFelício, integraram a delegação cutista o presidente nacional, Artur Henrique;o vice-presidente José Lopez Feijóo; a secretária de Comunicação, RosaneBertotti; o secretário de Formação, José Celestino; a secretária de Relações doTrabalho, Denise Motta Dau; a secretária Nacional da Mulher Trabalhadora,Rosane Silva; a secretária de Juventude, Rosana Sousa; a secretária de Combateao Racismo, Júlia Nogueira; a secretária de Meio Ambiente, Carmen Helena Foro;o diretor executivo Júlio Turra e a diretora executiva Junéia Batista.
Qual a suaavaliação deste 2º Congresso da CSI?
A ConfederaçãoSindical Internacional vem se fortalecendo por congregar diferentes concepçõese práticas das mais expressivas entidades sindicais de todas as regiões doplaneta. Neste sentido, o 2º Congresso foi um salto de qualidade, pois assumiua responsabilidade de definir ações concretas para o enfrentamento da crise ena defesa da democracia, do papel do Estado, da redistribuição de renda e dodiálogo social. Entre as principais prioridades estão a garantia de justiça eequidade no mercado de trabalho; a regulação das finanças, colocando a economiafinanceira a serviço da economia real; a luta por um futuro sustentável,com baixas emissões de carbono e, principalmente, a construção de um novomodelo de desenvolvimento, uma vez que o modelo especulativo parasitário ditadopela globalização neoliberal está falido.
E em relação aosistema financeiro...
Uma posiçãoexplícita em defesa da taxação do sistema financeiro, de um freio à orgiaespeculativa. Houve inclusive uma crítica ao G-20 que chegou ao cúmulo dedefender uma redução drástica do déficit público, o enxugamento do Estado. Naprática, isso significaria economizar recursos para saldar a dívida com osbancos, o que acarretaria ausência de investimento público. Não podemosconcordar com esta irracionalidade, pois seria mais do mesmo, combater incêndiocom gasolina. A saída, reafirmamos, está na defesa do poder aquisitivo dossalários, do fortalecimento do Estado, fomentador do mercado interno e daprodução, pois é isso que faz a roda da economia girar, com mais inclusão, maisrenda e direitos.
Como o movimentosindical internacional está vendo o processo brasileiro?
Há umreconhecimento mais do que evidente, expresso em várias intervenções, doprotagonismo do movimento sindical e do governo brasileiro no combate à crise.Um reconhecimento de que o Brasil é exemplo de diálogo social, de políticaspúblicas, de ações de combate à desigualdade. Diante disso podemos dizer que háuma torcida pela vitória do projeto democrático-popular, para que seja dadacontinuidade às ações do governo Lula.
Os debatescorresponderam às expectativas?
A CSI representaorganizações sindicais de mais de 150 países. O processo de discussão anteriorao Congresso ouviu a todos e colheu contribuições que ganharam corpo nasresoluções, que em certa medida refletiram a luta política existente, ascontradições. A pluralidade de posições existentes e as diferenças de análiseforam em boa medida contempladas. No entanto, é preciso fazer uma profundareformulação no que diz respeito às possibilidades de manifestação do plenáriodurante o Congresso. Não se pode engessar o debate sob pena de torná-loexcessivamente burocrático. É preciso fazer do Congresso um espaço maisdinâmico e atraente para os delegados. Não compromete a democracia aespecificação de posições, mesmo que antagônicas. Isso é bom para consolidar aCSI como uma central plural. Se avançarmos neste ponto, criamos as condiçõespara fortalecer a CSI. Que bom seria se o movimento sindical internacionaltivesse uma única central sob a bandeira da liberdade e da autonomia.
Diante dosreiterados abusos praticados pelos EUA no Iraque e no Afeganistão ou por Israelcontra a Palestina, o que fazer?
Nossa compreensão éque a democracia e o Estado de direito são os fundamentos para que tenhamospaz, solidariedade, garantia de direitos e respeito às organizações sociais.Nos preocupa profundamente a busca pelo conflito, pela guerra, a violaçãosistemática e a perseguição política às minorias e a todos aqueles que divergemou que buscam um novo mundo. Neste aspecto a América Latina vive o melhormomento de sua história. A maioria dos governos na América do Sul são do campodemocrático e popular. Não seguem as regras dos organismos internacionais,ultrapassadas e responsáveis pelo atraso econômico que ainda predomina nestaregião. Já os Estados Unidos vão na contramão com suas guerras imperiais contrao Iraque e o Afeganistão, são agressões com objetivo estritamente comercial,gerando altos lucros para as indústrias armamentista e petrolífera. Em relaçãoà Israel, consideramos que o povo judeu tem o direito de construir seu própriopaís. No entanto, consideramos que só haverá paz no Oriente Médio quando o povopalestino também tiver o direito de construir o seu próprio país e seconstituir enquanto nação, sem ser privado de sua liberdade.
A América Latinasegue em frente...
A maioria destesgovernos, respeitados pelos movimentos sociais, buscam caminhos próprios, comjustiça social, distribuição de renda e, principalmente, soberania eauto-determinação. Sem dúvida que esta postura incomoda os setores maisconservadores, as oligarquias locais, os chamados barões da mídia, que tudofazem para derrubar estes governos e fazer retroceder suas conquistas. Quandonão o fazem através de golpes, como o ocorrido em Honduras, apóiam candidaturasneoliberais, de direita, vinculados aos setores mais retrógrados. A práticapolítica deste segmento é a criminalização dos movimentos sociais.
Ampliar aarticulação dos movimentos sociais é a saída.
O fortalecimentodos movimentos sociais é o melhor caminho para enfrentarmos estes gruposdescompromissados com a democracia e a solidariedade. A conquista e a ampliaçãode direitos só é possível na democracia, na paz e na solidariedade. Por issorechaçamos o comportamento de algumas grandes potências, que apoiam e aindafinanciam golpes em nosso continente. Apoiam e financiam, através de açõeslocais ou através das multinacionais, candidaturas comprometidas com oretrocesso.
Um mundo livre, comdemocracia e justiça social, só é possível na paz e na solidariedade entre ospovos. Só é possível no respeito e na busca permanente da negociação. Só épossível através da eleição de governos que respeitam e negociam com osmovimentos sociais. Só é possível no fortalecimento das instituições, mudandoradicalmente seus papéis, sejam eles os organismos internacionais como a ONU, aOMC, o FMI, o Banco Mundial ou as instituições locais que geralmente expressamas opiniões de uma minoria rica em detrimento das opiniões da grande maioria.