Escrito por: Patricia Ferreira - CONTRACS/CUT
A rede de supermercados Carrefour não muda sua postura hostil contra os trabalhadores. O que a multinacional talvez ainda não tenha percebido é que suas vítimas estão mais esclarecidas e que maus tratos não passarão mais em branco. No que depender do Sindicato de Trabalhadores Promotores, Repositores e Demonstradores de Mershandising do Estado de São Paulo (Sindprodem), toda ação desrespeitosa aos diretos dos trabalhadores será denunciada.
Foi o que aconteceu com denúncia de assédio moral e humilhação, que resultou em ação judicial na Comissão de Igualdades de Oportunidades de Gênero, de Raça e Etnia, de Pessoas com Deficiência e de Combate à Discriminação. Segundo o processo n.º 47940-00086/2010, o sindicato declarou “que as situações de controle de saída e assédio moral, bem como o desvio de função dos promotores persistem em lojas da rede”, solicitando assim providências imediatas das lojas de São Paulo e Grande São Paulo. O Carrefour agiu cinicamente, dizendo desconhecer os fatos alegados e afirmando ter canais de comunicação para apurar as denúncias.
O mesmo processo exigiu que os promotores e demonstradores, nas lojas do Carrefour, fossem "tratados com respeito e cordialidade, no desempenho das suas atividades determinadas pelas empresas que estes representem..” Isso porque, ao exigir que a trabalhadores da categoria cumpram horas extras, por exemplo, o Carrefour se esquece que estes trabalhadores não são seus contratados, o que impede qualquer controle de horário.
Outro fragmento do documento determina que “os promotores deverão usar EPIs nas atividades que exijam tal procedimento” e proíbe “qualquer tipo de discriminação no ambiente de trabalho por motivos de raça, sexo, idade, necessidades especiais, opção sexual ou religião.”
“Qual será o motivo para o Carrefour não respeitar os direitos dos trabalhadores? Temos denúncias diversas, que vão de ordens para esfregar chão até espancamento”, diz o secretário geral do Sindprodem, Luiz Souza, o Luizão.
Mas, apesar das imposições jurídicas, absurdos continuam acontecendo nas lojas do Carrefour. O sindicato chegou denunciar a loja de Interlagos ao Ministério do Trabalho. Promotores foram mantidos em cárcere privado por dez horas, varando a madrugada, para trabalhar no balanço da loja, sob ameaça de expulsão dos trabalhadores de suas lojas. Esta situação colocou os promotores em situação delicada, pois eles poderiam ter perdido o emprego.
As denúncias também chegam de promotores que atuam nas lojas Giovani Gronchi e Imigrantes.
Casos de espancamento
E nem os consumidores escapam dos maus tratos. Em Vila Velha (ES), existe um caso que repercutiu bastante há 10 anos: consumidoras foram espancadas por seguranças. E em Osasco, um homem negro foi espancado no estacionamento do supermercado, por suspeita de roubo, totalmente racista.
Em 2006, a empresa e o Comitê Sindical Nacional de Trabalhadores no Grupo Carrefour estabeleceram processo de negociação para um acordo de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) que pudesse dar melhores condições de trabalho e remuneração aos trabalhadores e também para buscar soluções aos problemas levantados pelos sindicatos que integram o comitê.
Porém, as propostas apresentadas de PLR em nada beneficiavam o trabalhador. Beneficiavam apenas a empresa.
Não concordando com a proposta de PLR do Carrefour, o comitê realizou manifestação pacífica em frente a uma das lojas, em Osasco (SP), no dia 30 de agosto de 2007. Trabalhadores e dirigentes sindicais foram reprimidos com a presença e a atuação violenta da Polícia Militar, que prendeu e agrediu muitas pessoas. A ação mostrou-se predatória em diversas instâncias, atingindo dramaticamente desde trabalhadores até consumidores.
Ações desse gênero precisam ser combatidas em nível nacional e internacional, por isso a CONTRACS/CUT encaminhou as considerações e informações a seguir à UNI, visando eliminar as arbitrariedades e temeridades cometidas por essa multinacional nos países onde ela se instala.
Veja a política anti-sindical praticada pelo grupo Carrefour:
- PLR obscura
- Metas inexplicáveis
- Discriminação
- Assédio moral
- Demissão de Dirigentes Sindicais
- Não Pagamento de Horas Extras
- Trabalho multifuncional e trabalhadores insuficientes nas lojas
- Desrespeito ao Descanso Semanal Remunerado
- Trabalho aos Domingos
- Falta de intervalo para Almoço
- Anotação em Carteira de Trabalho de Função diferente da Exercida
- Problemas na emissão de CAT
- Doenças Profissionais e Normas de Segurança no Ambiente de Trabalho
- Acidentes de trabalho
- Desrespeito ao Meio Ambiente
As denúncias
São inúmeras as denúncias de que os trabalhadores do Carrefour cumprem, habitualmente, mais de 44 horas semanais, sem o pagamento de horas-extras, chegando a trabalhar de segunda a sábado, das 9 às 24 horas.
Muitos trabalhadores são liberados do trabalho às 2h da manhã, chegando em suas residências às 5h e tendo de retornar ao trabalho às 9h do mesmo dia.
Há comerciários e comerciárias trabalhando todos os domingos sem as devidas folgas;
Em Brasília, a prática do banco de horas tem sido registrada desde 2001, sem a existência de acordo coletivo, conforme determina a Convenção Coletiva de Trabalho.
Os trabalhadores do setor de perecíveis, tais como açougue, peixaria, frutas, legumes, padaria, salsicharia e congelados, não recebem insalubridade e nem possuem a quantidade necessária de equipamentos de segurança para o trabalho, ficando desprotegidos e expostos a prejuízos irreparáveis e doenças como estresse, cansaço, fadiga e Lesão por Esforço Repetitivo (LER).
Trabalhadores do setor de perecíveis têm denunciado que são obrigados a remarcar produtos vencidos. E, caso não aceitem participar desse crime contra o consumidor, são pressionados a pedir demissão ou ameaçados de demissão por justa causa.
Há perseguição a dirigentes sindicais, que também são trabalhadores.
Em 2001, o Carrefour já foi motivo de processo judicial, por confinar promotores de empresas fornecedoras na sala de máquinas, para que a loja de Porto Alegre escapasse da fiscalização do Ministério do Trabalho.
Comitês
A CONTRACS/CUT representa os trabalhadores comerciários e de serviços do Brasil, atuando em conjunto com os sindicatos filiados à CUT.
Com o objetivo de organizar e potencializar a luta da entidade em relação às multinacionais, a CONTRACS/CUT criou três comitês de trabalhadores (Wal-Mart, Carrefour e C&A), que, articulados com os sindicatos, buscam estratégias para combater as ações brutais que essas multinacionais empreendem contra os trabalhadores.