Escrito por: Cláudia Motta | RBA

Brasil precisa reduzir desigualdades para progredir e, para isso, deve taxar ricos

Levantamento realizado em parceria com Datafolha aponta que esmagadora maioria dos brasileiros quer país que as ruas pediram no #29MForaBolsonaro

Brenda Alcântara / Oxfam Brasil

Um Brasil com mais igualdade social, serviços públicos de qualidade e para todos, com manutenção do auxílio emergencial para quem precisa, onde os ricos devem pagar mais impostos para financiar políticas sociais no combate à desigualdade. Essas palavras poderiam estar em algum dos milhares de cartazes empunhados nas ruas no sábado do #29MForaBolsonaro. Mas resumem a terceira edição de Nós e as Desigualdades, pesquisa realizada em parceria entre a Oxfam Brasil e o Instituto Datafolha. O Brasil que emerge desse levantamento é plural, e entre outros, reconhece o machismo e o racismo como problemas a serem superados.

“A despeito do crescimento do discurso conservador que ganhou indubitável expressão política após as eleições de 2018… brasileiras e brasileiros expressam a compreensão de que mulheres ganham menos por serem mulheres, que sobre elas não devem recair a responsabilidade do trabalho doméstico e de cuidados”, informa a pesquisa. “Entendem também que a cor da pele influencia negativamente a renda, além de reduzir as chances de contratação por empresas, aumentar as chances de abordagem policial e impactar negativamente o comportamento do sistema de Justiça.”

Para oito em cada dez pessoas, reduzir as desigualdades sociais é condição primordial para o progresso da nação. “Aumentou o percentual de pessoas que aprovam o aumento da tributação no topo da pirâmide (84%) e, pela primeira vez desde que a pesquisa é realizada, a maioria da população (54%) é favorável ao aumento de impostos para todos como forma de financiar políticas sociais, como saúde, educação e moradia”, revela a diretora executiva da Oxfam, Katia Grager Maia, na apresentação dos resultados do estudo. Para 84%, deve haver aumento dos impostos de pessoas muito ricas para financiar políticas sociais. E 94% concordam que o imposto pago deve beneficiar os mais pobres.

Importância do Estado

A representante da Oxfam avalia as necessidades para enfrentar essa desafiadora realidade. “Além das medidas emergenciais de resposta aos efeitos da pandemia de coronavírus no país e a implementação do Plano Nacional de Imunização (PNI) com celeridade e efetividade, é necessário pensar e implementar políticas sociais fortes e inclusivas, financiadas por um sistema tributário justo e solidário, que garanta ao Estado condições de efetivar os princípios de redução das desigualdades sociais e regionais previstos na Constituição Federal de 1988”, afirma.

“Esperamos que esta pesquisa contribua para o debate sobre a importância do Estado no enfrentamento das desigualdades, ainda mais em um contexto de desafios adicionais graças à pandemia, a partir da percepção da sociedade, fomentar o debate sobre a urgência da construção de um Brasil mais justo, solidário e humano”, reforça Katia Grager Maia.

“Há uma ampla percepção pública sobre a relevância da ação do Estado na redução de desigualdades regionais, um princípio previsto no artigo 3º, III, da Constituição Federal de 1988”, revela o levantamento. “Em 2020, 89% dos brasileiros concordavam total ou parcialmente que ‘o governo brasileiro deve ter como prioridade diminuir a desigualdade entre as regiões mais ricas e as regiões mais pobres do país’; em 2019, eram 88% e, em 2017, 81%.

A pesquisa

Essa terceira edição da pesquisa foi realizada 22 meses após a segunda edição, devido às restrições a levantamentos presenciais à luz da pandemia do novo coronavírus. Uma foto da opinião pública ao fim de um ano marcado pela crise sanitária provocada pela pandemia de covid-19, além do segundo ano do governo do presidente Jair Bolsonaro.

A abordagem pessoal dos 2.079 entrevistados foi feita em pontos de fluxo populacional relevante no país entre 7 e 15 de dezembro de 2020. Foram 130 municípios de pequeno, médio e grande portes, incluindo regiões metropolitanas e cidades do interior. A margem de erro para a amostragem geral é de 2% para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%. “Por ser uma pesquisa amostral realizada em locais de grande circulação de pessoas, o Instituto Datafolha definiu uma amostra que busca refletir o próprio perfil da sociedade brasileira de acordo com o último Censo Demográfico, realizado em 2010. O questionário estruturado aplicado, com cerca de 20 minutos de duração, incluiu perguntas abertas, baterias de concordância e discordância, e perguntas fechadas (excluídas perguntas de identificação)”, explica a apresentação da pesquisa disponível no site da Oxfam Brasil, juntamente com a apresentação geral do Datafolha e os microdados.

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