Escrito por: Valdo Cruz, Hora do Povo
Investimento Direto Estrangeiro é responsável pelo aumento das remessas de lucros, justo a causa principal do rombo nas contas externas
No relatório de inflação apresentado na segunda-feira (30/03) pelo diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, o Banco Central aponta que "o ano de 2009 deverá registrar déficit em transações correntes, refletindo o ajuste da economia brasileira à crise internacional" e que esse resultado "deverá ser financiado com ingressos líquidos da conta financeira, com ênfase para os fluxos de IDE [Investimentos Diretos Estrangeiros]".
Diz ainda o relatório do BC que o déficit nas transações correntes (balança comercial, serviços e rendas e transferências unilaterais) em 2008 se deu em função da queda do saldo da balança comercial e do "aumento nas remessas líquidas de serviços e rendas, principalmente as relativas a lucros e dividendos".
Acontece que a "solução" apontada pelo Banco Central - ingressos de IDE -, ao invés de financiar, vai agravar o rombo nas contas externas, uma vez que as remessas de lucros e dividendos aumentam na razão direta da entrada de investimentos diretos estrangeiros (dinheiro para comprar empresas, ampliar a participação acionária externa ou empréstimos da matriz a uma filial de empresa estrangeira).
Como já demonstramos em artigos nesta mesma página, o chamado investimento estrangeiro direto "se tornou a forma por excelência de espoliação do país". Assim é que entre 1995 e 2008 entrou no país, sob essa forma, US$ 305 bilhões e 292 milhões. Ao mesmo tempo, as remessas do item "rendas", que inclui a remessa oficial de lucros para o exterior, totalizaram US$ 292 bilhões e 182 milhões. "Se antes a forma de drenar recursos do Brasil e demais nações periféricas para os EUA, e outros países centrais, era a dívida externa, em especial os juros da dívida externa, hoje o mecanismo predominante são as remessas de lucros (declaradas ou disfarçadas) resultantes da compra de empresas estatais e privadas".
Segundo o BC, as empresas do setor industrial foram responsáveis pelo envio de 66,2% das remessas brutas de lucros e dividendos de IDE em 2008 e as de serviços, por 31,5%. Por segmento, as remessas das montadoras, todas estrangeiras, representaram 21,6%, seguida das metalúrgicas com 14,7%.
A sangria de recursos tem ampliado de forma exponencial, principalmente em um momento em que as multinacionais estão atoladas na crise e estão sugando o que podem através de suas filiais. A situação se agrava quando os recursos advindos do comércio exterior não cobrem a saída de volumes fabulosos de dólares.
A desnacionalização brutal da economia brasileira, presente em quase todos os setores, haveria de cobrar o seu preço. E só mesmo a diretoria do Banco Central para pregar que a solução para um menor saldo comercial é entregar o que resta da economia do país ao capital externo.
Resumo da ópera: o BC pretende financiar o déficit das transações correntes que projeta para este ano com investimento estrangeiro direto, exatamente o agente responsável pelo aumento das remessas de lucros, a principal causa do rombo nas contas externas.