Escrito por: Correntista que ganha menos de R$ 2 mil terá que usar os terminais eletrônicos
Durante a audiência pública que aconteceu na Câmara dos Deputados na última quarta-feira (23), os representantes do Banco do Brasil reafirmaram que não vão negociar o pacote de medidas que está sendo implantado desde o último dia 07.
O presidente do BB, Antonio Francisco de Lima Neto, não compareceu à audiência, mas enviou executivos que deixaram claro que o interesse do banco é crescer, sem levar em conta os clientes. Os representantes da empresa disseram, textualmente, que o pacote de medidas tem o objetivo de manter o BB na liderança do mercado.
Os sindicalistas destacaram que o pacote vai extinguir 4.284 caixas nas agências. O diretor de Gestão de Pessoas, Juraci Massiero, afirmou que estes funcionários serão aproveitados, tornando-se assistentes de negócios. Este novo cargo será criado para atender aos correntistas com maior poder aquisitivo. Glauco Cavalcante Lima, diretor de Organização e Estratégia, destacou que o assistente de negócios terá salário maior que o de caixa, mas deixou de mencionar que a jornada do novo cargo também é maior, de oito horas. Para os representantes do funcionalismo, esta é uma gestão temerária que vai gerar um passivo trabalhista para o banco.
Filas e máquinas
O deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS), destacou que este remanejamento vai piorar o atendimento. “Como o banco vai cumprir a legislação que limita o prazo de atendimento nas filas com o corte no número de caixas?”, questionou o parlamentar.
O movimento sindical ressalta que, com a extinção dos cargos de caixa, o banco vai afastar das agências o cliente de baixa renda. Jurassi Massiero deu a entender que o banco vai empurrar estes clientes para o auto-atendimento e que esta é “uma tendência que decorre da inovação”. O banco afirmou, ainda, que a terceirização do processamento dos serviços do auto-atendimento com a Cobra Tecnologia é uma “ferramenta de administração”.
Sérgio Farias, diretor da Federação e integrante da Comissão de Empresa, esteve presente à audiência e destaca a fragilidade dos argumentos do BB sobre este assunto. “Uma das questões que o banco não teve como responder foi justamente a precarização das condições de trabalho através da terceirização”, avalia Farias.
PAA para economizar
O Plano de Aposentadoria Antecipada que faz parte do pacote de medidas é uma forma encontrada pelo banco para substituir funcionários antigos por outros, mais novos, com salários mais baixos. Juraci Massieiro negou que esteja acontecendo um enxugamento de pessoal. Segundo o executivo, os 2 mil funcionários que já aderiram ao PAA serão substituídos pelos concursados que ainda não foram convocados. Como há um concurso público em andamento, tudo indica que o banco espera que a adesão ao Plano em todo o país seja ainda maior.
Papel do banco
A mudança do foco do BB em clientes de maior poder aquisitivo levanta a questão do papel do banco na sociedade. Vagner Freitas, presidente da Contraf, apresentou números que mostram que a empresa se afasta cada fez mais de sua função como banco público: “No último ano, o segmento de crédito consignado, que pratica taxas de juros muito altas, cresceu 118%. Já o Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar –, que gera emprego e produção de alimentos mais baratos e fixa o agricultor no campo, aumentou somente 17%. O spread no BB está em torno de 30%, próximo ao praticado pelos bancos privados, e, no setor do agronegócio, os spreads cresceram 14%, mesmo com a queda da Selic”, relata.
Dois deputados presentes falaram da importância do BB para liderar a redução dos juros bancários. Pepe Vargas (PT-RS) lamentou que o banco não esteja atuando como regulador do mercado nesta questão. Pompeo de Mattos (PDT-RS) entende que o BB deve atuar como instrumento para a redução de juros. “Não vai ser um banco privado que vai dar o exemplo”, destacou o parlamentar.
Sergio Farias ficou satisfeito com a postura dos deputados que participaram da audiência: “Achei positivas as intervenções dos parlamentares que criticaram o banco por se distanciar de seu papel desenvolvimentista”, avalia o sindicalista.