Ao dizer que o ensino superior está perdendo a importância, governador de SP ataca o pensamento crítico, a ciência, o desenvolvimento econômico do país e ainda incentiva a produção de mão de obra barata
O projeto político da direita em “demonizar” o conhecimento, a cultura e submeter o país ao subdesenvolvimento, e a população brasileira a um eterno ciclo de pobreza e de submissão à elite econômica foi mais uma vez escancarado pelo governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na última quinta-feira (13), ele disse durante a inauguração de escolas técnicas, que o ensino superior está perdendo importância e que o mercado estaria “menos interessado” na formação acadêmica dos profissionais e “mais atento” apenas às habilidades apresentadas, ignorando todos os dados nacionais e internacionais que exaltam a importância do ensino superior para um país.
O que Tarcísio “esqueceu” de dizer que uma pessoa com curso superior tem mais chances de conseguir uma vaga no mercado de trabalho com salários maiores. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quem não concluiu o ensino superior recebeu, em média, R$ 2.587,52, enquanto os com diploma ganharam R$ 7.489,16.
A motivação do governador de São Paulo para tal declaração é a de manter o abismo entre os filhos e filhas da classe trabalhadora e os extratos mais privilegiados da sociedade, acredita Maria Isabel de Noronha, a professora Bebel, deputada estadual pelo PT e segunda presidenta do Sindicato dos Professores de São Paulo (Apeoesp).
O recado de Tarcísio é dirigido ao jovem trabalhador, de quem, de acordo com ele, o “mercado de trabalho” quer apenas “habilidades”, não quer cidadãos com formação crítica e autonomia intelectual. Ele não está falando, obviamente, para os filhos da elite destinados ao mando e aos negócios- Professora BebelUm exemplo é o próprio filho governador, Matheus de Freitas, que começou seus estudos de engenharia de produção, numa universidade federal, a UnB, em Brasília.
Elite direitista quer manter privilégios
O projeto da elite de manter a maioria da população brasileira na ignorância vem desde a colonização do Brasil. Enquanto a primeira universidade federal na América do Sul foi inaugurada no Peru em 1554. No Brasil isso só foi possível em 1920 - 420 anos depois da chegada dos portugueses. Essa é uma constante declaração do presidente Lula.
“A elite que ocupou esse país a partir de Portugal só imaginava que a gente fosse indígena, negro e trabalhador cortador de cana, não imaginava que a gente fosse ter outra coisa nesse país. Eu acho que a elite brasileira deveria ter vergonha, deveria se olhar no espelho e ter vergonha, porque precisou um torneiro mecânico, sem diploma universitário, governar esse país para ser o presidente que mais fez universidade na história desse país, para ser o presidente que mais fez instituto nesse país”, disse Lula, ao inaugurar um campus da Universidade Federal em Campos de Goytacazes (RJ).
No mesmo discurso o presidente da República disse que “a sala do ensino fundamental, do ensino médio, do instituto e da universidade não deixa de ser uma sala de sonhos. É ali que a gente sonha em aprender. É ali que a gente sonha em melhorar a vida da nossa família. É ali que a gente sonha em arrumar um emprego melhor, por esse emprego ganhar um salário melhor”.
Mas manter um cidadão sem formação crítica e intelectual é um projeto da extrema direita que “demoniza” o saber e a cultura para que sem senso crítica ele fique mais vulnerável às falsas informações e discursos rasos, sem pesquisas e estudos.
“A educação e cultura andam juntas e precisam estar entrelaçadas nas políticas educacionais. Sem a cultura, a educação perde muito de seu caráter transformador e se limita à transmissão de conteúdos, muitas vezes formatados em gabinetes, sem considerar as trajetórias, saberes e especificidades dos educandos. A articulação entre educação e cultura eleva o processo educativo a um novo patamar e torna a escola muito mais atrativa para que os estudantes dela queiram permanecer”, diz a professora Bebel.
Para ela, a fala do governador Tarcísio de Freitas é coerente com suas políticas de desmonte da educação no estado de São Paulo. “Não tenho dúvidas de que, havendo oportunidade, esse governador continuará cortando verbas da educação pública para destiná-las a projetos que beneficiem grupos privados e segmentos privilegiados da sociedade”, conclui. No ano passado o governador cortou R$ 10 bilhões da educação do estado.