Escrito por: Imprensa CNM/CUT

ArcelorMittal coleciona mortes em Minas Gerais

Rede de trabalhadores divulga nota manifestando seu repúdio às condições de trabalho oferecidas pelas unidades da empresa no Brasil

"Olá companheiros e companheiras, é com pesar que informo a todos e todas um acidente fatal na área de expansão da unidade de João Monlevade". Essa foi a frase dita nesta manhã (17), pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade, José Quirino dos Santos.

A morte do companheiro Raimundo Flaviano Costa, 43, ocorreu na tarde de quinta-feira (16). "Esse acontecimento reforça a necessidade de continuarmos nossa luta para a efetivação do acordo assinado pela empresa sobre os padrões mundiais de segurança. Ou seja, a implantação dos comitês locais de saúde e segurança", afirmou o coordenador do setor siderúrgico na CNM/CUT, José Wagner Morais.

Nem R$1 para segurança

Vale ressaltar que a ArcelorMittal anunciou em maio de 2010 o investimento de R$ 2,395 bilhões nesta planta de Minas Gerais, que permitirá a empresa dobrar a capacidade produtiva da usina de João Monlevade, passando das atuais 1,2 milhão de toneladas/ano de aço bruto para 2,4 milhões de toneladas/ano. Cabe a nós perguntar: e para a segurança dos trabalhadores, quanto será investido?

Repúdio

Desde o final do primeiro semestre de 2010, a CNM/CUT e a Rede dos Trabalhadores na ArcelorMittal Brasil denunciam a sequência de mortes. José Wagner, também Membro do Comitê Misto de Saúde e Segurança da ArcelorMittal, discutiu o tema na última reunião deste comitê e apresentou uma carta de repúdio às constantes mortes na ArcelorMittal Brasil, em agosto de 2010, feita pela Rede.

Leia abaixo:

NOTA DE REPÚDIO

Mortes na ArcelorMittal Brasil

A Rede dos Trabalhadores na ArcelorMittal Brasil manifesta seu repúdio às  condições de trabalho oferecidas pelas unidades da empresa no país, bem como sua política de Recursos Humanos - que atua como se cada trabalhador e trabalhadora fosse uma peça de reposição.

A política de Recursos Humanos nas plantas Arcelor Mittal Brasil é de ganância pelo lucro e tem feito com que trabalhadores percam a vida. Ainda estamos no mês de junho de 2010 e 5 trabalhadores já morreram em diferentes plantas da empresa. Não podemos entender esse fato de outra forma que não o absurdo descaso com a saúde e a segurança do conjunto dos trabalhadores na ArcelorMittal Brasil.

Ressalta-se que não estamos mencionando diversos casos de mutilação ocorridos na planta de Campinas/SP - que não se enquadram com acidentes fatais, mas em muitas situações impossibilitam jovens trabalhadores de exercerem sua profissão ao longo da vida.

As mortes ocorreram nas plantas de Timóteo/MG, Cariacica/ES, João Monlevade/MG e Tubarão/ES e foram todas avaliadas pela empresa. Repudiamos também esse método! Acreditamos que o processo de investigação deve ser coletivo, incluindo todas as partes interessadas, e de acordo com a política de saúde e segurança do grupo ArcelorMittal.

Não entendemos qual o problema em envolver os representantes sindicais na apuração dos fatos. Ora, se a empresa está agindo de acordo com suas próprias políticas mundiais, se o atendimento aos trabalhadores diretos e/ou terceirizados atende aos acordos mundialmente assinados pela empresa e às legislações nacionais, qual o problema?

O problema é que a empresa conclui seus relatórios sempre depositando a culpa no trabalhador morto. Afirma que não houve cumprimento dos procedimentos de segurança. Ora, mesmo se essa fosse a exclusiva razão para os acidentes, a empresa não deixaria de ter responsabilidade. Ela não deve permitir que os trabalhadores não atendam às normas de saúde e segurança e, para tanto, deveria ter mecanismos de controle. Mas a questão é que a empresa não elenca, e tampouco estuda os diversos fatores que propiciam uma fatalidade.

O Comitê avalia que há falhas inclusive nos procedimentos de segurança que os trabalhadores devem seguir, e isso também contribui para a ocorrência dos acidentes fatais. E nosso posicionamento não é do acaso, se sustenta no relatório feito pela própria empresa (unidade Cariacica/ES) que foi disponibilizado aos representantes da Rede dos Trabalhadores na ArcelorMittal Brasil.

A empresa não admite as falhas nos procedimentos de segurança exigidos, mas contraditoriamente o referido relatório determina um prazo para as correções no mesmo. Como podemos acreditar nas alegações da empresa se ela mesmo se contradiz?
 
Os representantes dos trabalhadores exigem a imediata correção das causas que levaram aos acidentes, e à criação do "Comitê Misto de Saúde e Segurança" em cada unidade instalada no país. Essa atitude nada mais é que o cumprimento do acordo firmado entre a Federação Internacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (FITIM) e a direção Mundial da ArcelorMittal.


É inadmissível que a empresa firme um acordo, crie espaços em prol da saúde e segurança dos trabalhadores em alguns países, e no Brasil não. Também é inaceitável uma empresa que tendo lucrado US$1,566 bilhão em 2009 (só nas plantas do Brasil) não tenha uma política de prevenção de acidentes eficaz e eficiente, que não respeite a vida daqueles que são os efetivos responsáveis pela sua manutenção e expansão: os trabalhadores.

Todo nosso repúdio a essa postura!

Rede dos Trabalhadores da ArcelorMittal no Brasil.

Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos do Espírito Santo, Sabará - MG. BH/Contagem-MG, Timóteo-MG, Juiz de Fora - MG, Piracicaba - SP, Osasco - SP, Campinas/Hortolândia - SP, Feira de Santana - BA, Ribeirão Pires/ABC - SP Vespasiano - MG , João Monlevade - MG.