Comitê pela Reestatização da Embraer reforça campanha em defesa do patrimônio nacional e dos empregos dos 4.273 demitidos
Destacando que "a reestatização é necessária e possível", a publicação fará uma retrospectiva das ações desenvolvidas, dos apoios recebidos e dos principais argumentos pela sua retomada, com declarações dos presidentes das centrais sindicais e de entidades populares. Entre as principais denúncias está a de que a empresa deixou de ser um símbolo da ciência e da tecnologia nacional para converter-se em montadora final, já que importa 95% das peças e exporta toda a produção.
De acordo com Antonio Carlos Spis, da executiva nacional da CUT, a crise do capitalismo central e seus impactos na economia tornam o momento extremamente propício para a campanha, com a falência do Consenso de Washington e seu receituário de Estado mínimo. "Esta é a hora de reforçar o papel indutor do Estado com a retomada desta empresa estratégica, essencial ao país e à construção de um projeto de desenvolvimento nacional soberano. Para nós, a reestatização está na ordem do dia", declarou Spis, denunciando que "a privatização da Embraer foi um crime de lesa-pátria, resultado de uma orientação neoliberal, de desmonte do patrimônio público, de entrega das nossas riquezas ao estrangeiro".
Os sindicalistas presentes condenaram o descompromisso da direção da Embraer com os trabalhadores da fábrica, com São José dos Campos, o Estado de São Paulo e o país, pois mesmo com um aumento do número de encomendas da ordem de 21% - de 204 para 242 aeronaves - algo muito positivo, principalmente num momento de retração do mercado internacional, a empresa decidiu cortar 20% dos seus funcionários, aumentando a exploração da mão-de-obra.
Segundo Atenágoras Lopes, da direção da Conlutas, é preciso denunciar que "contrariando o edital de privatização, mais de 50% das ações da Embraer são controlados por fundos de investimentos internacionais ou estão na Bolsa de Nova York, fato que já foi admitido pela própria Embraer". "É por isso que por maiores que sejam os lucros da empresa, boa parte do dinheiro vai para fora do Brasil", enfatizou.
Operário da Embraer e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Edmir Marcolino da Silva resgatou a importância da empresa para a defesa do país, uma vez que é responsável por boa parte da frota da FAB (Força Aérea Brasileira), hoje sucateada. Marcolino lembrou que da mesma forma que a Engesa - empresa nacional que fabricava tanques e armamentos - foi sucateada, deixando o país sem instrumentos para sua estratégia de defesa, a atual administração da Embraer joga contra o interesse nacional.
ABSURDO - Ao justificar a política do facão contra mais de quatro mil trabalhadores, a direção da Embraer assumiu no fatídico dia 19 de fevereiro que, "apesar de sediada no Brasil, a empresa depende fundamentalmente do mercado externo e do desempenho da economia global - mais de 90% de suas receitas são provenientes de exportações, pouco se beneficiando, portanto, da resiliência que o mercado doméstico brasileiro vem demonstrando". O que o comunicado não fala é da sua mais completa e cabal irresponsabilidade de diretores que penduraram a dinâmica da empresa ao mercado externo.
Em "O Caso Embraer - privatização e transformação da gestão empresarial: dos imperativos tecnológicos à focalização no mercado", Roberto Bernardes cita que em 1990, a Embraer realizou 63% de suas vendas dentro do Brasil; em 1991, essa parcela passou para 68%, o que se repetiu no ano seguinte; em 1993, o percentual foi de 62%; em 1994 - somente em dezembro desse ano a empresa deixou de ser estatal - 60% das vendas da Embraer foram internas. Somente em 1997, três anos após a privatização, a situação se inverteu: nesse ano, 84% das vendas da Embraer foram feitas para o exterior.
REAÇÂO - Diante de tamanho descalabro, o presidente estadual da CGTB, Paulo Sabóia, destacou que "a única possibilidade de futuro para a Embraer está na sua reestatização, pois, do contrário, seria jogar dinheiro público no lixo, mantendo a empresa sob controle alemão ou norte-americano, sem qualquer compromisso com o nosso mercado interno, com o Brasil e os trabalhadores".
O dirigente nacional cutista, Júlio Turra, ressaltou que a "reestatização da Embraer e a readmissão de todos os demitidos são símbolos de uma luta maior para recuperar a nação, defendendo os salários, os empregos e os direitos, que, para nós, são indissociáveis". Pelo significado destas bandeiras, declarou, "precisamos ampliar a unidade para vencermos esta batalha".
Para Sebastião Cláudio Rocha, da NCST, a amplitude de forças que se somam em apoio à reestatização da Embraer deve estar cada vez mais articulada para "sensibilizar os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário sobre a necessidade de que a empresa volte às mãos do povo brasileiro".
O secretário de Políticas Sociais da CUT Nacional, Expedito Solaney, avaliou que "o processo de desnacionalização e desmonte imposto pela direção da Embraer após a privatização atenta contra o país". Além dos acionistas serem majoritariamente estrangeiros, alertou Solaney, "há uma administração irresponsável que depois de aplicar - e perder - centenas de milhões especulando na Bolsa, jogou o ônus do rombo nas costas dos trabalhadores, em forma de demissão".
Desde a privatização, conforme o próprio BNDES, o banco público já desembolsou US$ 8,39 bilhões à Embraer, inclusive com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Esse valor representa cerca de três vezes a soma de todos os lucros da empresa entre 1998 e 2008 (R$ 7,6 bilhões).
O Comitê volta a se reunir no próximo dia 10 de junho, às 10 horas, na sede nacional da CGTB, em São Paulo.