Escrito por: Luiz R Cabral
Responsáveis por 70% dos alimentos na mesa do brasileiro, agricultores familiares precisam de políticas públicas que garantam saúde, dignidade e reconhecimento
No dia 25 de maio, o Brasil volta seus olhos para uma parcela essencial da sua força de trabalho: os agricultores e agricultoras familiares. Celebrar o Dia do Trabalhador Rural é reconhecer a importância estratégica de quem planta, cultiva e colhe boa parte do que alimenta o país. Os trabalhadores da agricultura familiar somam 10,1 milhões de pessoas, entre homens e mulheres, segundo o Anuário Estatístico da Agricultura Familiar 2023. São eles que cultivam e produzem 70% dos itens, como arroz, feijão, leite, frutas, legumes e verduras, que estão nas mesas da população brasileira.
O esforço das mãos desse contingente de pessoas no campo, desde o preparo do solo até a colheita, é parte de uma engrenagem silenciosa que sustenta o consumo urbano e contribui para o equilíbrio econômico e social do Brasil.
Mas por trás de toda essa produção, há uma rotina marcada por riscos e vulnerabilidades. A exposição constante a agrotóxicos e o estresse térmico provocado pela intensificação da crise climática, por exemplo, comprometem a saúde e o bem-estar de quem vive da terra.
Além disso, a imprevisibilidade das chuvas e os eventos climáticos extremos impõem também um fardo adicional às atividades dos trabalhadores rurais. O resultado são jornadas exaustivas, queda na produtividade e impactos profundos na saúde física e mental desses agricultores.
O cenário descrito acima faz com que especialistas e lideranças do setor defendam com urgência a adoção de mais políticas públicas eficazes que garantam a qualidade de vida desses trabalhadores e trabalhadoras. Pois garantir condições dignas a quem planta, colhe e mantém viva a tradição agrícola do país é fundamental para a formação de um Brasil mais justo e igualitário. Por isso, no dia do trabalhador Rural, celebrar o trabalho no campo é, também, cobrar ações concretas de proteção e valorização de quem alimenta o Brasil.
A comemoração em duas datas
A primeira, 25 de maio, tem respaldo legal. Foi criada pela Lei n.º 4.338, de 1º de junho de 1964, em memória do deputado federal Fernando Ferrari, morto em um acidente aéreo no mesmo dia, no ano anterior. Ferrari foi um dos principais defensores dos direitos dos trabalhadores rurais e participou ativamente da elaboração do Estatuto do Trabalhador Rural e de um projeto de reforma agrária que seria sancionado ainda naquele ano pelo então presidente João Goulart.
Economista e político gaúcho, nascido em São Pedro do Sul, Ferrari teve atuação destacada como deputado estadual e federal. Inicialmente filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), fundou posteriormente o Movimento Trabalhista Renovador (MTR). Em sua homenagem, a ditadura militar instituiu em 1971 o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural, que ficou conhecido como Lei Fernando Ferrari.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) é uma das principais entidades que celebram o 25 de maio como data oficial de reconhecimento aos trabalhadores rurais — agricultores, assalariados do campo, cuidadores de animais e pequenos produtores, todos responsáveis por impulsionar a produção de alimentos e contribuir decisivamente para a economia nacional.
Já em 25 de julho tem um caráter mais político e combativo. A data é promovida principalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pela Igreja Católica, que a associam à luta histórica pela reforma agrária e pela valorização da agricultura familiar. Nesse dia, o MST costuma realizar jornadas de mobilização com marchas, ocupações de terras e atividades públicas em defesa dos direitos camponeses.
O simbolismo do 25 de julho também remete à chegada dos primeiros imigrantes alemães ao Brasil, em 1824, que desembarcaram em Porto Alegre e foram enviados à Feitoria Real do Linho Cânhamo, núcleo que daria origem ao município de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul — primeira colônia germânica do país.
Em síntese, enquanto o 25 de maio marca a institucionalização da profissão e o reconhecimento legal do trabalhador rural, o 25 de julho representa um dia de mobilização e reivindicação por políticas públicas e justiça no campo. Ambos os marcos, no entanto, compartilham o propósito de valorizar o papel fundamental dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no desenvolvimento do Brasil.
Com informações do governo federal e Brasil de Fato